Paola Florenciano
15 de jun. de 2023
Nossa obreira foi presa e relata como foram seus dias e os milagres de Deus na prisão.
Muitos ficaram sabendo que no mês de Abril nossa obreira, líder da Rede de Igrejas Caseiras na Tailândia foi presa e ficou 27 dias no Centro de Detenção de Imigrantes na Tailândia. Foram dias de muita dor para toda nossa equipe, de muita tensão para toda família e de muita oração! Porém não tínhamos ideia do que nossa irmã estava vivendo naqueles dias.
Assim que ela foi liberta, o marido da nossa irmã, Pr Asif (nome fictício), nos ligou e através de uma video conferência choramos e rimos juntos, e sobretudo agradecemos ao Senhor. Mas o que mais notamos durante a ligação é que a nossa irmã, estava ávida para falar de tudo que tinha vivido, por isso marquei um outro momento com ela, somente para ela me contar tudo que ela queria falar. E aqui vai o seu relato:
"Eu estava trabalhando na escola, dentro de sala de aula, quando muitos oficiais do ministério do trabalho entraram pelos os corredores da escola filmando tudo. Pediram para que nós saíssemos da sala de aula e apresentasse nosso visto de trabalho.
Sou uma Requerente de Asilo, e estou em busca de um reconhecimento da ONU de que sou uma refugiada que sofreu perseguição religiosa no Paquistão e por isso estou na Tailândia, porque aqui em Bangkok tem um escritório da ONU para refugiados. O problema é que a Tailândia não reconhece ninguém como refugiado e por isso, para o governo Tailandês eu sou uma imigrante ilegal, sem visto e sem nenhum direito.
Eu trabalhava na escola para que minhas filhas pudessem estudar. Qual mãe não faria qualquer sacrifício por seus filhos, não é? Como estava trabalhando ilegal em troca de estudo para as minhas filhas, fui levada para o escritório do ministério do trabalho e depois me levaram para a delegacia mais próxima, onde passei a noite na mesma cela com outros contraventores. Eu estava atemorizada, passamos a noite (eu e mais tres mulheres) naquela cela, sentadas no chão, porque não havia nenhum lugar para sentar o deitar. Ao mesmo tempo que eu tinha medo e que havia chances de ser levada para o Centro de Detenção de Imigrantes(CDI), eu ainda estava confiante que o Diretor da Escola poderia pagar pela minha fiança e eu ser liberada.
PRIMEIRA NOTÍCIA RUIM
Pela manhã o Diretor da escola nos informou que não poderia arcar com a nossa fiança, pois ele havia recebido uma multa gigante do ministério do trabalho por acolher "imigrantes ilegais". Então, no mesmo dia fui levada a corte, diante de um Juiz. Ele só queria saber se eu tinha dinheiro para pagar por uma multa, que me asegurava o direito de não ficar em uma prisão comum. Se eu pagasse a multa, seria levada para o Centro de Detenção de Imigrantes(CDI). Rapidamente nossa organização nos enviou o dinheiro e a multa foi paga.
Da corte me levaram para o CDI. No caminho consegui fazer uma ligação para o meu marido, eu estava desesperada, chorava copiosamente. A maioria das pessoas que iam para o CDI não saem de lá facilmente, os que saem demoram 2 anos ou mais para conseguir sair.Estava preocupada com minha vida, com minhas filhas em casa, como elas ficariam sem mim.
Quando cheguei no CDI fiquei em choque! O tratamento naquele lugar é desumano. Fiquei em uma cela com 17 mulheres. O espaço para dormir, sentar, fazer as refeições era mínimo. As vezes nos revesávamos durante o dia para nos esticar no chão. A cela era muito quente. Haviam três ventiladores de teto dentro da cela, mas eles ficavam muito no alto e giravam extremamente devagar. Água para banho e lavar roupa era pouca e vinha somente em um determinado horário do dia. O banheiro para 17 mulheres dentro da cela era muito sujo, com o vaso sanitário no chão, comum na Ásia, o que deixava o ambiente ainda mais precário.
FORÇAS PARA PASSAR OS DIAS
Eu não sei de onde tirei forças para passar os dias. Os primeiros dias foram muito difíceis. Eu tinha fortes dores por todo meu corpo, pois fiquei dormindo no chão puro sem colchão por quase uma semana. Depois que eles providenciaram colchonete para mim. Mas o que eu percebi é que muitas mulheres estavam completamente desesperadas e desesperançadas, e eu, era a única que tinha uma mensagem de esperança. Então passei a orar com elas, mesmo muitas não entendendo inglês. Tinha mulheres de muitos lugares: Países da África, Malasia, Indonésia, Laos, Mianmar, Vietnã, China, Camboja, India, Nepal. Parecia que eu estava no meio do mundo! E por isso entendi que o Senhor tinha me levado para a prisão com um propósito. Sim, Ele me levou para a prisão, para que eu pudesse levar esperança.
Começei orar por quem estava doente, e elas ficavam curadas. Febre ia embora, dor de cabeça, problemas na pele, tudo sumia! Depois que orava apresentava Jesus para elas e o plano da salvação para todo que crê Nele! Também passei a orar junto com outras mulheres que haviam sido presas junto comigo, elas são cristãs católicas. Elas queriam orar um poquinho, e eu falava que não, que a gente precisava orar muito, continuar em oração, orando por um milagre. Elas se cansavam de orar e eu continuava orando por mim e por elas.
Passei também a reunir para cantar louvores, eu cantava em Urdu, na minha lingua, porque não sabia cantar em Inglês. Mesmo assim, elas pediam para continuar e diziam que enquanto cantava uma paz invadia suas vidas. Aproveitava para falar de Jesus. Também quando alguém trazia uma refeição paquistanesa para nós, a gente dividia com todo mundo da cela. Elas ficavam muito agradecidas, ao ponto de chorar enquanto comiam. No CDI, eles só servem uma sopa rala e sem sabor de pepino, com arroz... todos os dias e em todas as refeições, ou você come, ou você morre!
Eu passei 27 dias vendo pessoas ficando doentes emocionalmente, com depressão profunda, algumas não aguentavam o peso da situação e passavam a falar sozinhas e a delirar. Outras perdiam o desejo de viver, achando que nunca mais iam sair daquela situação. Então todo momento de oração, louvor e palavra, era momento de cura. O Senhor estava me usando de uma forma que eu nunca imaginei ser usada.
Também tinha que me manter forte toda vez que ligava para casa, para passar uma ideia de que eu estava bem para minhas filhas. Elas queriam falar comigo, me contar como tudo estava, e saber de mim. Eu não podia falar o que eu estava passando para duas adolescentes em casa sem a mãe.
OS ULTIMOS DIAS
Os últimos dias pareciam uma eternidade. Eu fiquei feliz com o milagre que Deus fez fora da prisão. Deus moveu diversas pessoas e organizações para pagar minha fiança, mas mesmo pagando a fiança caríssima que eles cobraram, ainda corria o risco deles não aceitarem a minha liberdade. Eles entraram em contato com a ONU e a resposta da ONU é que eu não sou uma protegida deles. Não havia ninguém por mim! Mas o Meu Deus era por mim, e Ele é por todos nós!
Eu achei que ainda ficar um bom tempo no CDI, mas para minha surpresa fu solta em 27 dias, um recorde para pessoas em situações como a minha. Eles me soltaram em um dia e em um horário muito incomum, por volta das 8hs da noite! Estou em casa com minha família.
VIDA PÓS PRISÃO
Quando fecho os olhos para dormir, sonho com a cela, com as pessoas, com o choro, com o lugar, com os tapas na cara que os guardas davam em algumas mulheres. Mas hoje eu sei tudo que meus irmãos antes de mim passaram e ainda vivem dentro do CDI. Nesses mais de 9 anos que vivemos nessa situação aqui na Tailândia, cuidei de muitas famílias que tinham membros que estavam presas no CDI, alguns morreram lá dentro. Pessoas que não fizeram mal a ninguém, que só vieram parar aqui nesse país em busca de ajuda da ONU e que só encontraram mais dificuldades. Nesses mais de 9 anos, eu escutava as histórias, orava com as pessoas, ajudava em suas necessidades arranjando roupa, comida e remédio. Por muitas vezes cozinhava refeições para mandar para os que estavam presos no CDI, mas passar por lá foi outra experiência. Hoje eu sei o tamanho da dor!
Hoje o governo sabe onde moramos. De 15 em 15 dias tenho que me apresentar ao escritório da imigração para informar que estou residindo no mesmo lugar e que não estou em fuga. Não sei o que será do nosso futuro, mas sei que o mesmo Deus que providenciou minha liberdade, que tocou no coração de muitas pessoas para orar por mim, tambem abrirá um novo caminho. Eu acredito e por isso confio! "
Esse foi o relato detalhado da nossa obreira, que trabalha conosco liderando uma Rede de Igrejas Caseiras, que é um projeto evangelistico em meio aos refugiados paquistaneses, as comunidades indianas e Sikhs espalhadas em Bangkok.
Hoje, mesmo vivendo essa situação, eles continuam fazendo as reuniões pelo Zoom. Os cultos continuam acontecendo e os estudos bíblicos também. Se você deseja ser um mantenedor desse trabalho, clique no link abaixo e se torne um Amigo em Missão. Que Deus te abençoe!